segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Envelhecer...




Olá!

É interessante como pequenas tarefas do cotidiano podem ser ricas, dependendo do quanto estamos dispostos a refletir sobre elas...


Já é ponto pacífico que nas grandes metrópoles as pessoas vivem em um ritmo alucinado e mal se dão conta do que está acontecendo ao seu redor. Eu, que nasci em São Paulo, mas tive a oportunidade de morar quatro anos e meio no interior sou testemunha de quantos vícios os moradores das grandes cidades acumulam, muitos deles muito dispensáveis por sinal.
Mas voltando aos pequenos acontecimentos do cotidiano, lá estava eu hoje cedo na fila do banco, meio impaciente tentando vislumbrar um futuro sem papel-moeda... (absurdo!) e de repente saí do meu mundinho egoísta quando uma das pessoas que estava entre os primeiros da fila se indignou e gritou com o gerente... pedindo que ele tomasse providências quanto ao número de funcionários do atendimento ao público.


Logo, todos deixaram a vergonha de lado e começaram a esbravejar também... Eis que começaram a chegar vários idosos...


Um ar de insatisfação generalizado se instaurou... e comecei a me sentir incomodada. Meu incômodo cresceu quando eu ouvi os comentários maldosos das pessoas sobre a dificuldade que a senhora idosa teve de se recordar de sua senha, dificuldade essa ainda muito maior quando lhe foi solicitado que passasse seu cartão naquela maquininha (em alguns bancos isso não é responsabilidade dos caixas?)


Comecei a pensar que recentemente minha mãe trocou de computador e resolveu doar o antigo à minha vó. Passei algumas horas tentando ensinar algumas coisas pra ela e a última coisa que eu pensei foi que minha vó precisaria perder o medo do mouse... A partir do momento que ela se sentiu mais à vontade com ele... a experiência se tornou mais prazerosa para ela. Será que as pessoas não se dão conta que nem todos dominam as novas tecnologias, mas que isso não significa que inexista o desejo de aprender a lidar com elas? (ainda que não sejam tão novas assim)


Como é possível envelhecer com dignidade nesse mundo descartável e pautado na "utilidade" ?


Sei que para alguns essa discussão pode parecer ultrapassada, mas eu não acredito nisso.


Não é todo mundo que cede os assentos reservados nos ônibus e metrôs aos idosos. Muitos sequer notam a presença deles... a não ser que a presença deles represente algum entrave...


Essa senhora idosa oriental... de fala mansa e mãos trêmulas não passou mais de dez minutos em atendimento no banco ... mas incomodou. Um pouco antes de deixar o banco... ouvi outra senhora falando ao celular com filha... dizendo que não se importava com a demora... ir ao banco era um modo de andar um pouco, espairecer... porque não dizer, de se sentir útil, numa sociedade que condena o ócio. (A não ser que o ócio de uns possa ser o negócio de outros, nao?


De qualquer maneira, esse pequeno fato me fez refletir a respeito do envelhecimento. Não concebo a velhice como a fase da estagnação, da resignação. Também não gostaria de ser tratada com piedade na minha velhice. Muito pelo contrário, seria ótimo se eu pudesse usar o tempo livre de maneira criativa e estimulante... ciente das minhas limitações, mas sobretudo... inspirada pelas inúmeras possibilidades de aprendizado.